As comunidades podem ser definidas pela associação de indivíduos, onde cada um desempenha um papel fundamental. As comunidades de abelhas possuem uma rainha, responsável pela manutenção da espécie. Entretanto a comunidade de peixes é um pouco diversa. Não há um líder por assim dizer e todos desempenham funções equivalentes. A comunidade de seres humanos, também chamada de sociedade, é semelhante a das abelhas, já que alguns indivíduos realizam funções mais elevadas e outros não. Desse modo, criamos uma sociedade onde algumas funções possuem maior mérito que outras e essa diferença de postos é responsável por gerar em nós o desejo de possuir ou se tornar outra pessoa.
Ao desenvolvermos uma sociedade hierarquizada acabamos construindo uma competição onde os participantes tornam-se concorrentes e não colaboradores. Para vencer, muitos utilizam estereótipos, ou seja, aparecem com uma esplêndida Ferrari vermelha, porém o motor é de fusca! A aparência foi criada para intimidar os outros competidores. A falsa representação da realidade pode ser observada inúmeras vezes na Bíblia. Adão e Eva esconderam-se de Deus após pecarem; Jacó usurpou a bênção de seu irmão Esaú; Ananias e Safira mentiram sobre o valor que venderam a propriedade; Pedro não admitiu ser discípulo de Cristo perante os soldados; e nós todos os dias sorrimos dizendo estar tudo bem, negligenciamos amizades, sentimentos, temperamentos e até nossas condutas.
A primeira atitude de Adão e Eva ao perceberem que estavam nus foi se esconder da presença do Senhor (Gn 3:8). Quando pecamos contra Deus ou percebemos nossa iniquidade perante a santidade do Senhor a primeira atitude é se esconder, fingir uma realidade que não existe. A Bíblia nos alerta sobre a impossibilidade de se esconder de Deus. “Para onde poderia eu escapar do teu Espírito? Para onde poderia fugir da tua presença? Se eu subir aos céus, lá estás; se eu fizer a minha cama na sepultura, também lá estás” (Sl 139:7-8). Podemos até esconder das pessoas nossas falhas. No entanto, é impossível esconder nossos erros de Deus. Ele conhece tudo em nós e deseja não perfeição, mas a sinceridade para admitir fraquezas.
Quando Jacó foi abençoado por Isaque, debilitado pela cegueira, ao invés de Esaú, ele provavelmente pensou ter enganado Deus ao receber a Bênção. No entanto, Deus conhecia o coração de ambos irmãos, pois como diz o salmista “Porventura não esquadrinhará Deus isso? Pois ele sabe os segredos do coração”. Percebemos que a aparência é valida apenas para os olhos humanos, já que Deus enxerga o nosso intimo, o local de onde provem nossos pensamentos, planos, desejos, onde não há falsidade!
O Cristão de mentirinha é intitulado por Jesus como hipócrita. Conduta severamente combatida por ele a hipocrisia, segundo o dicionário significa manifestação de fingidas virtudes, sentimentos bons, devoção religiosa, compaixão. A intenção de Jesus não era disseminar uma ideologia, mas sim mostrar aos homens o quão errado é este padrão de concorrências que incitam falsidade. O intento de Cristo era nos alertar que Deus nos vê como de fato somos e que para ele é mais importante a sinceridade para admitir que precisamos de Cristo do que o estereótipo de um irrepreensível cristão que vive de aparências.
Certamente Paulo foi o maior exemplo de “cristão de mentirinha” segundo a Bíblia. “Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu;Segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível”. Essa passagem de Filipenses 3:5 - 6 nos revela que a vida de Paulo baseava-se na mentira da posição social e no orgulho de ser Mestre da Lei. Entretanto, sua mentira foi desmascarada quando ele se encontrou com Jesus Cristo. Imediatamente suas fraquezas foram expostas. O Fariseu irrepreensível foi confrontado com o Cristo verdadeiro e teve sua vida transformada.
Depois de convertido pela verdade, Paulo com toda sinceridade afirma ter orado 3 vezes para que Deus retirasse dele uma fraqueza e apesar do insucesso compreendeu que somente seria possível obter poder de Cristo se simplesmente admitisse suas imperfeições. “Mas ele me disse: "Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza". Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim.” (2co 12:9)
Devemos entender que a nossa glória deve ser a fraqueza e não a perfeição! Adversários procuram vencer a qualquer custo, porém os que trabalham juntos , como o corpo de Cristo, têm interesses idênticos. Os cristãos devem se manter unidos, caminhar juntos, viver em unidade! “Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4:3). Entendem que todas as funções são igualmente úteis e por isso respeitáveis. No Reino de Deus não há espaço para falsidades ou mentiras. A sinceridade é pré-requisito para união daqueles que tem o objetivo comum de indicar aos perdidos o caminho que nos leva de volta para Deus.
por Jonatas Kaizer e Carol Leonel